Por ser um tema inerente à raiz do Blues, resolvemos aparar algumas arestas sobre o assunto e publicar um pequeno estudo sobre a religião no Blues.
Numa época considerada como as vozes gêmeas da cultura afro-americana, as tradições gospel e blues, foram julgadas gradativamente com os dois lados de uma linha divisória. Os afro-americanos eram de mútua exclusão: o blues ou a música gospel, Deus ou o Diabo, o céu ou o inferno. O cantor de blues escolhia as segundas opções, às vezes estabelecendo pactos (conforme diz a lenda fez Robert Johnson) para adquirir um domínio mais amplo da "música do diabo".
No momento atual muitos fãs consideram aos cantores de blues, principalmente os cantores do Delta, como os equivalentes afro-americanos do século XX dos poetas românticos do século XIX, que se rebelaram contra as convenções sociais com sua arte e morreram jovens pela sua inclinação à tuberculose, á sífilis ou ao suicídio.
.O blues e a música religiosa desempenhavam diferentes funções sociais na cultura afro-americana. O blues nasceu no interior de uma cultura afro-americana no momento em que as igrejas extáticas Holiness e Pentecostal estavam-se espalhando, e estes credos populares acolheram expressões musicais ecléticas, no caso dos religiosos gospel ou holy blues.
As raízes africanas no Blues são evidentes tanto em seu ritmo, sensual e vigoroso, quanto na simplicidade de suas poesias que basicamente tratavam de aspectos populares típicos como religião, trabalho, amor, sexo e traição.
A cena, que acabou por tornar-se típica nas plantações de algodão do Delta, era a legião de negros trabalhando de forma desgastante sobre o embalo das work-songs ou gritos (hollers), expressão vocal básica trazida da África.
A Religião
Em sua chegada na América, no início do século 19, os negros sofreram uma evangelização maciça, porque as religiões africanas eram proibidas aos escravos. Mas é claro que uma sociedade tão profundamente cristã, como a dos plantadores escravagistas do Sul dos EUA ,não podia confessar francamente essa utilização do homem negro unicamente como animal de carga. Depois de muito tempo considerando os negros como meio-macacos, resolveu-se evangelizá-los em massa, levando-lhes assim a felicidade de crer
Entre 1895 e 1900, florescem seitas religiosas
Naquela época, a palavra ‘blue’ era relacionada às coisas maléficas. Desde o século
Son House (1902-1988), por exemplo, cresceu num ambiente religioso e acabou se insurgindo contra a influência demoníaca do Blues. Isso não o impediu de gravar alguns clássicos do gênero, como Preaching Blues e Jinx Blues. Mas isto durou pouco tempo.
Após o fim da escravidão, os negros continuaram num regime de semi-escravidão e possuíam pouquíssimas forma de lazer. Uma delas eram os modestos jook joints, barracos de madeira que abrigavam uma mistura tosca de sala de conserto, salão de danças e bar. Por ali passaram os primeiros nomes do Blues. Detalhe: eram localizadas o mais longe possível da igreja local.
Por Edu Soliani
Fontes: The Blues – Gérard Herzhaft – 1986.
“Blues” – Da lama à fama – Roberto Muggiati – 1995
Blog – www. religiaoecultura.blogspot.com
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