Em apenas três anos de carreira, Jimi Hendrix virou mito. Até hoje, 37 anos após a sua morte, o músico é lembrado como um visionário que antecipou muito do que aconteceria na era pós-Beatles. O interesse de ouvintes jovens, que nem eram nascidos quando ele morreu de overdose em 1970, aos 27 anos (completaria 28 em novembro), é grande o bastante para que, dois anos depois de sair uma biografia sobre Hendrix (Rool Full of Mirrors, de Charles Cross, também biógrafo de Kurt Cobain), aparecesse outro livro semelhante: Jimi Hendrix: A Dramática História de uma Lenda do Rock (Jorge Zahar Editor, 356 páginas, R$ 39,90), da jornalista Sharon Lawrence.Os fatos são inalteráveis, mas não sua interpretação. Se Cross concedia mais atenção à infância de Hendrix em Seattle, revelando sua luta contra a segregação, um pai ausente e uma mãe alcoólatra, Lawrence concentra seus esforços na carreira do guitarrista, que conheceu em 1968, um ano após sua apresentação no histórico Festival de Monterrey. Ele já era, então, relativamente conhecido nos EUA. Ao ler o capítulo em que a jornalista, ex-repórter da UPI, dá carona ao agente do guitarrista e atende a seu pedido para assistir a um show do músico, a impressão que pode ficar é a de que, graças a pessoas como ela, Hendrix chegou ao topo. Evidentemente, trata-se de um exagero.Em outros capítulos, a autora é menos subjetiva e esquece que escreveu a biografia por ter sido amiga íntima do músico - tão íntima que leiloou dois maços de cigarros Salem fumados por Hendrix, servindo ainda como testemunha de defesa no processo que o músico enfrentou por entrar com heroína e haxixe no Canadá, em dezembro de 1969. Nesse episódio, a biógrafa garante que Hendrix estava limpo. Alega que a droga foi plantada em sua bagagem. Ela faz outras acusações sérias nesse livro que não poupa a meio-irmã do guitarrista, Janie, nem a mulher que estava com ele na hora da morte, Monika Dannemann. Ela teria demorado para pedir socorro.Teorias conspiratórias não são desconsideradas nessa como em outras biografias anteriormente lançadas. No entanto, o modelo do livro de Lawrence é mais convencional e menos policialesco: quer mostrar, como se diz, o homem por trás do mito. A jornalista é do tipo que ajuda os amigos a escolher roupas e atende a pedidos de socorro às três da madrugada - e Hendrix, em ambos os casos, sempre recorreu a ela, a considerar o relato da autora. Em todo caso, são poucas as revelações que faz. Minimiza a consciência racial do músico ao afirmar, por exemplo, que, no início de sua carreira, em 1966, quando se juntou ao saxofonista King Curtis, era apenas um músico acompanhante sem grandes chances de ser ouvido como expoente de uma geração. Naquela época, só quem prestava atenção em seus solos eram os vendedores de guitarra da Mannys, na rua 48, e os boêmios do Village, seus primeiros fãs. Foi por esses anos que conheceu a prostituta de rua Regina Jackson (o nome verdadeiro era outro, admite a biógrafa), com quem viveu por algum tempo em hotéis baratos. Seus relacionamentos, sempre tempestuosos, são explorados com muita astúcia - e crítica - pela biógrafa.Já a relação de Hendrix com músicos ganha menos destaque. Um dos episódios mais marcantes é o do seu encontro com Eric Clapton, que em 1966 vivia no auge. Hendrix aproveitou-se da situação e da platéia do Cream, a banda de Clapton, para eclipsá-lo: tocou uma infindável versão de Killing Floor, sucesso do legendário bluesman Howlin Wolf. Garante a biógrafa que Hendrix se arrependeu por ter tratado Clapton com tão pouco respeito.
Matéria extraída do Jornal online Zero Hora.com (27/11/2007)
Um comentário:
ERIC CLAPTON , FALA SOBRE O PRIMEIRO ENCONTRO COM JIMI, DURANTE ESTE SHOW DO CREAM CITADO AÍ NO TEXTO :
"...quando Chas Chandler, baixista do Animals, apareceu acompanhado por um jovem americano negro que apresentou como Jimi Hendrix. Ele nos informou que Jimi era um guitarrista brilhante e queria participar de uns números conosco. Ele me pareceu bacana, e provavelmente sabia o que estava fazendo. Começamos a conversar sobre música, e ele gostava dos mesmos bluesmen que eu , então estava tudo certíssimo. Jack ficou na boa também, embora pelo que me lembre Ginger tenha sido um pouco hostil.
A canção que Jimi queria tocar era de Howlin' Wolf, intitulada "Killing Floor". ACHEI INCRÍVEL QUE ELE SOUBESSE TOCAR AQUILO, POIS ERA DUREZA DE ACERTAR. Claro que Jimi tocou exatamente como ela deve ser tocada, e eu pirei por completo. Quando se faz uma jam com outra banda pela primeira vez, a maioria dos músicos tenta se segurar, mas Jimi foi com tudo. Tocou guitarra com os dentes,por trás da cabeça, deitado no chão, fazendo divisões, o serviço completo.Foi assombroso, E TAMBÉM GRANDIOSO EM TERMOS MUSICAIS, não só pirotecnia...A platéia ficou embasbacada com o que viu e ouviu. Eles adoraram, eu também adorei..."
(trecho retirado da Autobiografia de Eric Clapton, capítulo sobre o Cream, pg 98 )
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